sexta-feira, 14 de março de 2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Sinopse: O operário em construção




Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade



Era a sua escravidão.
De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente


Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
— Garrafa, prato, facão —
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.
Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.
Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão.
Pois além do que sabia
— Exercer a profissão —
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.
E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.
E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:
Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

[...]
(Vinicius de Moraes)








A poesia trata de problemas sociais,o trabalho como base da vida humana.
Representados por uma profissão simples(pelo fato de não ter uma estrutura acadêmica,porém complexa e pesada para quem a exerce) no contexto o conjunto destas profissões é representado pela de pedreiro.
Em uma análise destilada,temos de começo a apresentação do trabalhador,responsável pelo desejo que não brotou de sua vontade.
Se afastando de terra firma.ao tempo em que subia os tijolos e direcionava não só o corpo,mas também os pensamentos e a concentração em seu serviço,tendo aquilo como grande importância.E de fato era.
Um trabalho feito sem ansiedade de presenciar o estágio final.
Embora desconhecido a quem o exerce.Por ser como mais uma ferramenta ou material de construção,sem ser exigido idéias e a mente.Mesmo caminhando juntos,sem previsão.
O caminho seguido sem escolha ordenado por quem não o acompanha é dúbio.Na medida em que ele o trilha para viver,mas não vive durante seu trajeto.
Estranho entender,que o que lhe cabia fazer era mais valioso do que a recompensa que teria,sendo esta insuficiente para o nada,que tinha.
Algumas vezes no poema é citado " Um operário em construção" Sim.Construção mútua,o sacrifício daria vida a projetos e estes lhe dariam expectativas de vida.Deduções e raciocínios,se erguiam ao passo em que erguiam-se as casas,reconhecendo sua importância.Que começava a tomar cor,o que antes era transparente e síngelo já podia ser visto ao seus olhos.Tendo sua estrutura firme,assim como as casas,também construída por ele mesmo.A grande importância do seu SIM e NÃO,reconhecendo ser seu próprio patrão.
Evoluindo,em alto patamar podia observar, de onde antes era observado,sem ao menos buscar nas lembranças diante de seus olhos via o passado,sendo presente de alguém,em que outrora ele não era diferente.
Por fim se construiu a obra mais minuciosa.Projeto vida humana como base do trabalho.




[Erys Huanna]